Os homens e a origem do medo

por José Renato L. Milet

Este texto não se propõe a esgotar o assunto e oferece apenas uma percepção sobre aspectos específicos da criação do garoto que se refletem na relação com o medo na fase adulta.

Este texto não se propõe a esgotar o assunto e oferece apenas uma percepção sobre aspectos específicos da criação do garoto que se refletem na relação com o medo na fase adulta.

No estudo da cultura das tribos primitivas em diferentes continentes observou-se que o homem tem um modo de criação diferente comparado com o das mulheres. No início da adolescência, há um ritual de passagem com provas rigorosas que marcam a passagem para a fase adulta como também para que conheçam o medo; espera-se desses homens que assumam o papel de proteger a tribo.

Nesses rituais, os meninos da tribo são retirados da convivência com a mãe (isso não é tão fácil para eles e nem para as mães) na idade que varia entre 8 e 12 anos e passam a conviver com os homens da tribo, ouvindo suas histórias, aprendendo a arte da caça, a afiar lanças e a enfrentar os animais.

Em nossa sociedade, rituais equivalentes a esses estão praticamente extintos. Muitas vezes não ocorre de maneira plena a passagem do convívio com a mãe para a conquista de sua autonomia para seguir sua vida na selva da vida. Podemos citar o vestibular e o primeiro emprego como exemplos mais próximos de "rituais" informais, que reúnem um certo grau de desafio e de colocar-se à prova.

A pouca ênfase ou inexistência do exercício de superação que esses rituais promovem, pode resultar em um medo que vai se instalando em níveis mais profundos e pode até se refletir mais intensamente na fase adulta. Esse medo mais básico equivale à iminência de perder a segurança associada ao vínculo e conforto da mãe para ligar-se à vida como sendo um mundo desconhecido com significado ameaçador.

Ao se relacionarem com as mulheres na vida adulta, homens com atitudes de dominação ao extremo ou de submissão não têm consciência do medo que pode ter se instalado em alto grau e que fica ali pairando em outros contextos de sua vida.

Nessas pesquisas sobre os aspectos masculinos e em entrevistas com clientes de coaching, trabalho com a hipótese de que os homens que cedo desenvolveram sua autonomia e fizeram uma passagem natural de sair do convívio com a mãe e lançaram-se aos desafios da vida, pondo-se à prova ou desenvolvendo suas habilidades ao abrirem-se para novas experiências, tem mais possibilidade de se relacionar melhor não só com os desafios da vida como também nas relações afetivas.

O outro lado da questão, relativa à dificuladade de certas mães para abrir mão desse vínculo com o filho a partir de certa idade é assunto para uma outra oportunidade.