Enquanto o AMOR não vem

por José Renato L. Milet

Estamos numa época de intensas e diversificadas conexões, que estão sendo facilitadas pela tecnologia, desde a praticidade do telefone celular e sua versatilidade para comunicação por voz, texto, imagens até a internet com as chamadas mídias sociais (ex: Facebook) e por aí vai.

Podemos afirmar que a maioria das pessoas gosta de se comunicar e de se relacionar? Acredito que sim. Alguém já disse que os relacionamentos são um meio importante de conhecermos a nós mesmos. E isso faz muito sentido. Aprendemos muito quando nos colocamos abertos a percebermos no outro o reflexo de nossas atitudes para com esse outro.

Uma explicação para isso é que a comunicação - e os relacionamentos - é sistêmica. De maneira simplificada, esse sistema é composto pelas pessoas envolvidas, o meio (presencial, por telefone, e-mail, etc) e a mensagem (o conteúdo e a parte não verbal – tom de voz, gestos, expressão facial e corporal). Se eu falo algo e a outra pessoa não gostou e expressou isso de maneira verbal ou gestual (com “caras e bocas” como se diz no popular) e eu estiver atento a essa resposta, poderei saber de imediato, e fazer ou não algo a respeito.

Um dos desafios nos relacionamentos é que nem sempre nos damos conta da resposta que geramos na outra pessoa. Pois o fato de estarmos, dentro de nosso próprio ponto de vista, bem intencionados sobre aquilo que estamos comunicando isso não é suficiente para mantermos uma interação harmoniosa. Lidamos com pessoas diferentes, que percebem a realidade e a julgam de maneira diferente.

Isso me lembra a comédia teatral que assisti recentemente e abordou com seriedade situações de relacionamentos. Um casal iniciou uma briga porque o namorado comentou algo de maneira desproposital sobre o rosto da namorada. A palavra usada poderia ser qualifidada, para alguns por exemplo, como “neutra”. Mas para aquela companheira, naquela situação, o significado foi depreciativo, gerou contrariedade e deu motivo para “discutirem a relação”.

Uma das mensagens que ficaram para mim dessa peça e que gostaria de compartilhar é: o quanto o amor próprio, o valor que somos capazes de, sinceramente, reconhecer que temos como seres humanos, é o que precisamos para nos sentirmos bem conosco mesmos. E sentir-se bem é um pilar importante para se cultivar um relacionamento equilibrado.

Os relacionamentos também podem nos ajudar a perceber quando isso não está acontecendo, de não sermos capazes de reconhecer sobre o quanto sentimos necessidade de nos apoiar no outro ou esperar que o outro venha a suprir aquilo que não estamos sendo capazes de encontrar dentro de nós mesmos.

Se estiver disposto a ser protagonista de uma relação que valha a pena viver entendendo o que se passa com você mesmo, poderá começar a dedicar-se a novos aprendizados que levem ao autoconhecimento.

Enquanto seu AMOR não vem, poderá preparar-se para esse encontro consigo mesmo.

(texto publicado na Revista Prana - nov/2012)